adolescentes
          Talvez eu não queira esquecê-lo. Porque tê-lo em pensamento é melhor que não tê-lo em lugar nenhum. E, caso eu tente me apaixonar por outro cara, tenho medo de conseguir. Porque ele tem se mantido tão distante, tem dado tanta abertura, tem me desejado tão longe, que chega a dar vontade de desistir. Mas eu não desisto. Porque eu gosto de amá-lo. Eu gosto dessa saudade idiota que eu sinto assim que desligo o telefone. Eu gosto daquele pensamento perdido no meio da chuva forte. Eu gosto de sonhar acordada com ele. E mesmo que eu não gostasse, não há como fugir. 
          No meio da novela surge aquela cena em que o cara pede perdão pra mocinha. E eu me lembro dele. Eu sempre me lembro dele em cenas do tipo. Mas aí me dá uma dor no peito porque eu sei que ele nunca me pedirá perdão. Porque eu sei que, pra ele, eu não faço a mínima ideia do que é sofrimento. Mal sabe ele que eu choro baixinho todas as noites. Mas ele acha que faço drama, charme, atuação. Ele sempre acha que estou exagerando. Ele não aceita o fato de eu amá-lo de um modo ridículo e sofrer com cada ligação mal finalizada. Ele não aceita o fato de eu ter o mundo nas mãos e apenas desejar que ele me considere seu mundo. Deve ser medo. 
          Ele deve ter medo de se entregar pra alguém como eu. Ele deve ter medo de pessoas que prezam a autossuficiência e a ironia. Mas eu já cansei de dizer que, por ele, eu me torno mais sociável e até mais amável. Já cansei de provar que para ele eu sou a mulher que nenhuma outra pessoa conhece. Eu sou única ao lado dele. Não me mostro para ninguém como me mostro para ele. Não tiro minha capa de arrogância para mais ninguém. Mas ele não quer mais me ver nua – sem capa, sem máscaras, sem mentiras. Ele se cansou de mim, assim como uma pré-adolescente se cansa de suas velhas bonecas. 
          Eu era quase dependente daquela voz rouca e daquele sorriso amarelado. Quase – digo – porque eu tentava fazer minha autossuficiência se sobressair. Eu tentava lutar contra todos os meus instintos que imploravam pelo seu corpo e pelo seu carinho 24 horas por dia. E ele me rendia. Ele me ganhava. Ele ganhava o jogo da independência. Não era legal – e ainda não é. Ele sempre conseguiu ser feliz sem mim. Nossas brigas nunca refletiam no seu final de semana agitado. Enquanto o meu sempre se resumia em John Mayer, pantufas antiderrapantes e sorvete napolitano. 
          Mas aí os dias úteis chegavam e era a minha falta que ele sentia. E, boba, eu tirava as pantufas, colocava um salto alto e corria para seus braços. Ele nunca deu valor. E ainda não dá. Por isso que tenho medo de me afastar demais e esquecê-lo. Não que seja fácil, afinal, já tentei dezenas de vezes. Todas em vão - que fique claro. Mas agora é diferente. Está doendo mais que das outras vezes. Ele não só se afastou, como também arranjou outra pequena dos cabelos ondulados e negros, parecidos com os meus. Ele arranjou outras bochechas para morder, outros lábios para beijar, outros pés para brincar, outra silhueta para deslizar as mãos e outra nuca para arrepiar. Ele se esqueceu de mim, me guardou numa caixinha e jogou a chave fora. 
          Ele me quer presa - eu sinto isso. Mas não me quer presa a ele. É como se eu não pudesse ser de outro alguém, mas também não pudesse ser dele. Só porque ele já se enjoou de mim, só porque ele já se cansou do meu ciúme bobo e das minhas insônias irritantes. Mas eu fugi da caixinha. Ou estou tentando fugir ainda, não sei. Estou conhecendo pessoas novas a fim de viver novos romances e lances e esquentas e qualquer merda que não envolva amor verdadeiro. Porque, querendo ou não, amor mesmo eu só sentirei por ele. Mesmo que trinta ou quarenta anos se passem. 



Sobre John Mayer, pantufas antiderrapantes e sorvete napolitano

15 de mar. de 2015

          Talvez eu não queira esquecê-lo. Porque tê-lo em pensamento é melhor que não tê-lo em lugar nenhum. E, caso eu tente me apaixonar por outro cara, tenho medo de conseguir. Porque ele tem se mantido tão distante, tem dado tanta abertura, tem me desejado tão longe, que chega a dar vontade de desistir. Mas eu não desisto. Porque eu gosto de amá-lo. Eu gosto dessa saudade idiota que eu sinto assim que desligo o telefone. Eu gosto daquele pensamento perdido no meio da chuva forte. Eu gosto de sonhar acordada com ele. E mesmo que eu não gostasse, não há como fugir. 
          No meio da novela surge aquela cena em que o cara pede perdão pra mocinha. E eu me lembro dele. Eu sempre me lembro dele em cenas do tipo. Mas aí me dá uma dor no peito porque eu sei que ele nunca me pedirá perdão. Porque eu sei que, pra ele, eu não faço a mínima ideia do que é sofrimento. Mal sabe ele que eu choro baixinho todas as noites. Mas ele acha que faço drama, charme, atuação. Ele sempre acha que estou exagerando. Ele não aceita o fato de eu amá-lo de um modo ridículo e sofrer com cada ligação mal finalizada. Ele não aceita o fato de eu ter o mundo nas mãos e apenas desejar que ele me considere seu mundo. Deve ser medo. 
          Ele deve ter medo de se entregar pra alguém como eu. Ele deve ter medo de pessoas que prezam a autossuficiência e a ironia. Mas eu já cansei de dizer que, por ele, eu me torno mais sociável e até mais amável. Já cansei de provar que para ele eu sou a mulher que nenhuma outra pessoa conhece. Eu sou única ao lado dele. Não me mostro para ninguém como me mostro para ele. Não tiro minha capa de arrogância para mais ninguém. Mas ele não quer mais me ver nua – sem capa, sem máscaras, sem mentiras. Ele se cansou de mim, assim como uma pré-adolescente se cansa de suas velhas bonecas. 
          Eu era quase dependente daquela voz rouca e daquele sorriso amarelado. Quase – digo – porque eu tentava fazer minha autossuficiência se sobressair. Eu tentava lutar contra todos os meus instintos que imploravam pelo seu corpo e pelo seu carinho 24 horas por dia. E ele me rendia. Ele me ganhava. Ele ganhava o jogo da independência. Não era legal – e ainda não é. Ele sempre conseguiu ser feliz sem mim. Nossas brigas nunca refletiam no seu final de semana agitado. Enquanto o meu sempre se resumia em John Mayer, pantufas antiderrapantes e sorvete napolitano. 
          Mas aí os dias úteis chegavam e era a minha falta que ele sentia. E, boba, eu tirava as pantufas, colocava um salto alto e corria para seus braços. Ele nunca deu valor. E ainda não dá. Por isso que tenho medo de me afastar demais e esquecê-lo. Não que seja fácil, afinal, já tentei dezenas de vezes. Todas em vão - que fique claro. Mas agora é diferente. Está doendo mais que das outras vezes. Ele não só se afastou, como também arranjou outra pequena dos cabelos ondulados e negros, parecidos com os meus. Ele arranjou outras bochechas para morder, outros lábios para beijar, outros pés para brincar, outra silhueta para deslizar as mãos e outra nuca para arrepiar. Ele se esqueceu de mim, me guardou numa caixinha e jogou a chave fora. 
          Ele me quer presa - eu sinto isso. Mas não me quer presa a ele. É como se eu não pudesse ser de outro alguém, mas também não pudesse ser dele. Só porque ele já se enjoou de mim, só porque ele já se cansou do meu ciúme bobo e das minhas insônias irritantes. Mas eu fugi da caixinha. Ou estou tentando fugir ainda, não sei. Estou conhecendo pessoas novas a fim de viver novos romances e lances e esquentas e qualquer merda que não envolva amor verdadeiro. Porque, querendo ou não, amor mesmo eu só sentirei por ele. Mesmo que trinta ou quarenta anos se passem. 



Sentada na escadaria daquela velha igreja que costumávamos ficar, eu, entre mascadas de chiclete e sucções de nicotina, me peguei, novamente, pensando em você. O que não seria novidade alguma, caso eu estivesse naquele período de desespero, de submissão como nos primeiros dias após o abandono sem aviso prévio. Acontece que eu jurei, pra Deus e o mundo, que já havia passado e que suas lembranças nem me atormentavam mais. Eu jurei que não doía mais, nem um tiquinho sequer. E doeu. Doeu de um modo anormal, pior que qualquer facada no peito que alguém já ousou levar.
O tempo escurecia enquanto as árvores balançavam. Os hippies da feirinha que se localiza logo em frente à igreja já recolhiam seus artesanatos, prevendo a chuva que chegaria a qualquer momento. Eu permaneci intacta, sem nem me locomover para baixo da marquise. As gotas pesadas daquela chuva gelada começaram a cair sem piedade dos seres humanos desabrigados. Sem piedade de mim que já não tinha mais seu coração para fazer de morada.
Os minutos passavam vagarosamente – ao contrário das pessoas. Tanto as que saíam da igreja, quanto aquelas que corriam para encontrar o abrigo mais próximo. Em meio à pressa das pessoas, eu passei despercebida. O meu choro descontrolado não pareceu ser uma anormalidade naquele dia extremamente úmido. Os soluços em meio aos sons amedrontadores dos trovões eram imperceptíveis. E eu, do fundo do meu coração, não sabia se aquilo era bom o ruim.
Deixei-me invadir pela chuva que já era, na verdade, uma tempestade. A camiseta que eu vestia – que já foi sua, por sinal – estava completamente encharcada. Pesava sobre meu corpo frágil, mas nada que se comparasse ao peso da minha cabeça que implorava por pender. Meu subconsciente implorava pelo seu ombro para que ela repousasse tranquilamente. E você não estava lá. E você não esteve lá. Digo “lá” como quem diz “ao meu lado”, pois você nunca esteve, sinceramente, comigo.
Permaneci trêmula, numa tentativa falha de que a tempestade levasse junto dela a minha dor. Deixei com que a água que caía do céu me limpasse por fora, enquanto eu implorava para que meu interior também ficasse limpo – livre de você. Mas aquela dor absurda parecia não passar. A tempestade aumentava e as ruas já estavam alagadas, e nada de eu me livrar de você. Eu chorei tanto por você que achei que você fosse transbordar pelos meus olhos e, assim sendo, eu estaria livre, limpa. E nada. Eu chorei e você não se foi, não saiu de mim. Eu chorei e você nem voltou, não retornou pra mim. Entende o tamanho da contradição?
Eu implorei por incontáveis minutos que você surgisse em meio àquela chuva para me salvar ou, pelo menos, se preocupar com o possível resfriado que eu estava prestes a pegar. Porém, a verdade é que você não estava mais nem aí. Não estava mais nem ali. E, talvez, nunca mais estivesse.
Eu permaneci naquela chuva até que o tempo se acalmou. Conforme os minutos se passaram, eu também me acalmei. As pernas já não estavam mais trêmulas e as mãos já não apertavam mais o restante do corpo em tom de desespero. O tempo bonito voltou. Os hippies voltaram. As pressa diminuiu. O arco-íris até surgiu. A única coisa inalterada foi o vazio que você deixou em mim.
Então, amor, aguardo ansiosamente pelo meu arco-íris interior.


Sem morada

8 de fev. de 2015

Sentada na escadaria daquela velha igreja que costumávamos ficar, eu, entre mascadas de chiclete e sucções de nicotina, me peguei, novamente, pensando em você. O que não seria novidade alguma, caso eu estivesse naquele período de desespero, de submissão como nos primeiros dias após o abandono sem aviso prévio. Acontece que eu jurei, pra Deus e o mundo, que já havia passado e que suas lembranças nem me atormentavam mais. Eu jurei que não doía mais, nem um tiquinho sequer. E doeu. Doeu de um modo anormal, pior que qualquer facada no peito que alguém já ousou levar.
O tempo escurecia enquanto as árvores balançavam. Os hippies da feirinha que se localiza logo em frente à igreja já recolhiam seus artesanatos, prevendo a chuva que chegaria a qualquer momento. Eu permaneci intacta, sem nem me locomover para baixo da marquise. As gotas pesadas daquela chuva gelada começaram a cair sem piedade dos seres humanos desabrigados. Sem piedade de mim que já não tinha mais seu coração para fazer de morada.
Os minutos passavam vagarosamente – ao contrário das pessoas. Tanto as que saíam da igreja, quanto aquelas que corriam para encontrar o abrigo mais próximo. Em meio à pressa das pessoas, eu passei despercebida. O meu choro descontrolado não pareceu ser uma anormalidade naquele dia extremamente úmido. Os soluços em meio aos sons amedrontadores dos trovões eram imperceptíveis. E eu, do fundo do meu coração, não sabia se aquilo era bom o ruim.
Deixei-me invadir pela chuva que já era, na verdade, uma tempestade. A camiseta que eu vestia – que já foi sua, por sinal – estava completamente encharcada. Pesava sobre meu corpo frágil, mas nada que se comparasse ao peso da minha cabeça que implorava por pender. Meu subconsciente implorava pelo seu ombro para que ela repousasse tranquilamente. E você não estava lá. E você não esteve lá. Digo “lá” como quem diz “ao meu lado”, pois você nunca esteve, sinceramente, comigo.
Permaneci trêmula, numa tentativa falha de que a tempestade levasse junto dela a minha dor. Deixei com que a água que caía do céu me limpasse por fora, enquanto eu implorava para que meu interior também ficasse limpo – livre de você. Mas aquela dor absurda parecia não passar. A tempestade aumentava e as ruas já estavam alagadas, e nada de eu me livrar de você. Eu chorei tanto por você que achei que você fosse transbordar pelos meus olhos e, assim sendo, eu estaria livre, limpa. E nada. Eu chorei e você não se foi, não saiu de mim. Eu chorei e você nem voltou, não retornou pra mim. Entende o tamanho da contradição?
Eu implorei por incontáveis minutos que você surgisse em meio àquela chuva para me salvar ou, pelo menos, se preocupar com o possível resfriado que eu estava prestes a pegar. Porém, a verdade é que você não estava mais nem aí. Não estava mais nem ali. E, talvez, nunca mais estivesse.
Eu permaneci naquela chuva até que o tempo se acalmou. Conforme os minutos se passaram, eu também me acalmei. As pernas já não estavam mais trêmulas e as mãos já não apertavam mais o restante do corpo em tom de desespero. O tempo bonito voltou. Os hippies voltaram. As pressa diminuiu. O arco-íris até surgiu. A única coisa inalterada foi o vazio que você deixou em mim.
Então, amor, aguardo ansiosamente pelo meu arco-íris interior.


Já faz uns dias que eu tenho analisado friamente uns adolescentes que conheço, afim de entender um pouco mais do que se passa na mente desses quase-adultos. Até eu notar que você não pode analisar algo que você é e faz parte. Ah a adolescência é mesmo mágica, perturbadora, sombria, assustadora e maravilhosa. Um mix de sensações que você nunca viverá novamente.

Começamos naquela fase, dos treze ou catorze quando você fica se perguntando: “Será que eu sou mesmo adolescente? Será que já chegou a hora de ser “gente grande”?” Normalmente é nessa idade que temos a grandiosa experiência do primeiro beijo, os dentes batendo, as bocas desajeitadas, e é nessa idade também que vem os primeiros amores as coisas parecem mais intensas, as paixões da semana são longas e intermináveis. E nós sofremos como loucos por coisas pequenas, ninguém te entende! Ali começa tudo, donde é que vem tanto drama?

"Aos quinze anos tudo é infinito." Machado tinha razão, quando você completa quinze já é uma moça ou um rapaz e isso te faz ter responsabilidades diferentes. Aquele resquício de criança precisa desaparecer rápido! Aquela boneca debaixo da cama, tem que sumir de vista. O carrinho de bombeiro tem que ser doado, e todas as atitudes infantis vão ser julgadas. Comé que pode? Já tem quinze e ainda faz isso! Tá na hora de arrumar um amorzinho, isso sim! Com quinze anos, apesar da cobrança eu não consegui amar ninguém. Tudo aquilo que você viveu antes parece vazio e raso, e aí começa a nossa incansável busca por coisas intensas! E essa dura a vida inteira.

Dezesseis primaveras. As coisas começam a ficar sombrias. As pessoas mostram que não são tão boazinhas. Os rapazes não são como os da Disney e as moças também machucam nossos corações. E como dói a primeira vez que temos nosso coração partido. Aquela dor te quebra por muito tempo, e a gente fica sem comer, e sem beber, e começa a fazer opções malucas. Por religiões, por ideologias, por amigos, e por amores. E que merda, sempre erramos ao escolher nossos amores! Nossas palavras escolhidas vem sempre acompanhadas de palavrões: foda-se, eu não me importo! (se importa sim, garotinha!)


Depois de dezessete invernos, fala sério a vida é um inferno! A pressão pré-vestibular começa “O que você vai cursar?! Pra que faculdade você vai?! Tem que ir pra Federal hein! Mas a federal nem é tudo isso! Seu primo já foi aprovado em direito, sua prima tá cursando medicina, sua tia disse que ele passou sem estudar! Não é tão difícil! Você só estuda!!!” Quem nunca ouviu essa frase aos dezessete? É uma idade complicada, viu! Entre provas, amores quebrados e outros surgindo, família e todas as opções que você já fez (e as consequências junto delas), assim são os dezessete.


E perto dos dezoito, ansiedade. As mãos ficam suadas, agora eu posso beber, posso ir para a balada sem rg falso, posso ser presa, posso votar, posso viver! Agora eu preciso trabalhar, e preciso ser adulto, e ter meu dinheiro, e estudar para ser alguém na vida… “mas eu só tenho dezoito!” Não! Você já tem dezoito! Ter dezoito pode incluir muitas responsabilidades mas ao mesmo tempo dá aquela sensação de liberdade que faz seu peito quase explodir. Novamente imaginamos aquela coisa mágica de sair com os amigos, e dançar The Smiths no meio da rua de madrugada. Sentimos vontade de fazer algo novo e ter história para contar, e talvez o amor nem nos faça tanta falta. Onde é que deixamos nossos amores passados? Onde é que deixamos nosso “eu passado”? Nada disso importa quando você está prestes a fazer DEZOITO ANOS!


E os dezenove eu já nem sei, não dá pra imaginar. Vinte? Vixe Maria! Aí já é adulto de vez. Realmente a adolescência pode ser toda essa loucura interna que vez ou outra externamos, mas é a melhor fase da vida porque é ali que nos descobrimos, que podemos fazer nossas opções, pensar e agir sozinhos e sentir aquela liberdade de ser. É ali que lidamos com o amor e com as pessoas como elas são. E é ali que vão ficar as suas melhores histórias.

Crise de Adolescente

12 de jan. de 2015

Já faz uns dias que eu tenho analisado friamente uns adolescentes que conheço, afim de entender um pouco mais do que se passa na mente desses quase-adultos. Até eu notar que você não pode analisar algo que você é e faz parte. Ah a adolescência é mesmo mágica, perturbadora, sombria, assustadora e maravilhosa. Um mix de sensações que você nunca viverá novamente.

Começamos naquela fase, dos treze ou catorze quando você fica se perguntando: “Será que eu sou mesmo adolescente? Será que já chegou a hora de ser “gente grande”?” Normalmente é nessa idade que temos a grandiosa experiência do primeiro beijo, os dentes batendo, as bocas desajeitadas, e é nessa idade também que vem os primeiros amores as coisas parecem mais intensas, as paixões da semana são longas e intermináveis. E nós sofremos como loucos por coisas pequenas, ninguém te entende! Ali começa tudo, donde é que vem tanto drama?

"Aos quinze anos tudo é infinito." Machado tinha razão, quando você completa quinze já é uma moça ou um rapaz e isso te faz ter responsabilidades diferentes. Aquele resquício de criança precisa desaparecer rápido! Aquela boneca debaixo da cama, tem que sumir de vista. O carrinho de bombeiro tem que ser doado, e todas as atitudes infantis vão ser julgadas. Comé que pode? Já tem quinze e ainda faz isso! Tá na hora de arrumar um amorzinho, isso sim! Com quinze anos, apesar da cobrança eu não consegui amar ninguém. Tudo aquilo que você viveu antes parece vazio e raso, e aí começa a nossa incansável busca por coisas intensas! E essa dura a vida inteira.

Dezesseis primaveras. As coisas começam a ficar sombrias. As pessoas mostram que não são tão boazinhas. Os rapazes não são como os da Disney e as moças também machucam nossos corações. E como dói a primeira vez que temos nosso coração partido. Aquela dor te quebra por muito tempo, e a gente fica sem comer, e sem beber, e começa a fazer opções malucas. Por religiões, por ideologias, por amigos, e por amores. E que merda, sempre erramos ao escolher nossos amores! Nossas palavras escolhidas vem sempre acompanhadas de palavrões: foda-se, eu não me importo! (se importa sim, garotinha!)


Depois de dezessete invernos, fala sério a vida é um inferno! A pressão pré-vestibular começa “O que você vai cursar?! Pra que faculdade você vai?! Tem que ir pra Federal hein! Mas a federal nem é tudo isso! Seu primo já foi aprovado em direito, sua prima tá cursando medicina, sua tia disse que ele passou sem estudar! Não é tão difícil! Você só estuda!!!” Quem nunca ouviu essa frase aos dezessete? É uma idade complicada, viu! Entre provas, amores quebrados e outros surgindo, família e todas as opções que você já fez (e as consequências junto delas), assim são os dezessete.


E perto dos dezoito, ansiedade. As mãos ficam suadas, agora eu posso beber, posso ir para a balada sem rg falso, posso ser presa, posso votar, posso viver! Agora eu preciso trabalhar, e preciso ser adulto, e ter meu dinheiro, e estudar para ser alguém na vida… “mas eu só tenho dezoito!” Não! Você já tem dezoito! Ter dezoito pode incluir muitas responsabilidades mas ao mesmo tempo dá aquela sensação de liberdade que faz seu peito quase explodir. Novamente imaginamos aquela coisa mágica de sair com os amigos, e dançar The Smiths no meio da rua de madrugada. Sentimos vontade de fazer algo novo e ter história para contar, e talvez o amor nem nos faça tanta falta. Onde é que deixamos nossos amores passados? Onde é que deixamos nosso “eu passado”? Nada disso importa quando você está prestes a fazer DEZOITO ANOS!


E os dezenove eu já nem sei, não dá pra imaginar. Vinte? Vixe Maria! Aí já é adulto de vez. Realmente a adolescência pode ser toda essa loucura interna que vez ou outra externamos, mas é a melhor fase da vida porque é ali que nos descobrimos, que podemos fazer nossas opções, pensar e agir sozinhos e sentir aquela liberdade de ser. É ali que lidamos com o amor e com as pessoas como elas são. E é ali que vão ficar as suas melhores histórias.

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