Menina de Verdade

27 de jan. de 2015

Eles zombam da garotinha. Apontam seus cabelos curtos e seu tênis preto, rindo. Eles não se importam com o que aquela estranha sente, apenas com sua aparência, o que com certeza não é a de uma menina. A garotinha olha em seus ombros, à procura de cabelos sedosos e lisos caindo sobre eles, ela olha em seus pés esperando encontrar neles sapatos cor de rosa brilhantes. Quem sabe assim eles a aceitem? Quem sabe assim eles queiram brincar? E então, todos os dias, a menina de seis anos é motivo de chacota e é apontada como a patética. Hoje a menina cresceu, tem finalmente cabelos compridos e sapatos cor de rosa, tem quem goste dela, quem se importe, mas ainda assim aquela garotinha insegura sempre volta. O medo dá as caras e faz a menina enxergar a garotinha no espelho. Do lado de lá do espelho, ela olha pra si mesma no futuro, tem medo e desconfiança no olhar. Suas feições denunciam que chorou pouco tempo antes, o que é de se esperar de uma inocente vítima da crueldade do mundo. A menina sou eu. A cada desafio, a cada mudança, ela está lá, encarando-me com seus profundos olhos tristes como quem diz "Por favor, não nos faça sofrer mais uma vez." É toda vez que a esperança morre em mim que a garotinha que não era "menina de verdade" aparece e me lembra o porquê dela ainda existir em minha mente. Eu continuo respirando os ares tristes dessa sociedade de rótulos, de superficialidade. Sou o que se espera resultar de uma sociedade sem amor. Meu lado emocional quer acreditar que as pessoas são capazes de mudar, mas a razão grita aos quatro ventos que elas são imutáveis. Enquanto houver quem a pratique, a maldade sempre existirá. É exatamente o que Hollywood mostra, uma luta entre o bem e mal, com uma única diferença: na vida real, nem sempre o bem vence.


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