E se eu estiver a tanto tempo procurando minha metade da laranja, e se toda essa busca foi em vão. Como eu pude ser tão idiota em acreditar que eu poderia ter uma metade da laranja, eu logo eu, que sempre fui tão duro com as pessoas, que sempre fui tão seco, que sempre tive medo de deixá-las chegar tão perto.
 Obviamente que eu sempre estive procurando errado, como eu um limão poderia procurar uma laranja? Eu já ouvi dizer que os opostos se atraem, mas ai dizer que uma laranja se atrai por um limão isso já é de mais.
 Eu perdi tanto tempo procurando minha metade da laranja, quando ela nem ao menos existia, eu fiquei preso procurando algo que nem existia, fiquem cegos a ponto de menos prezar os outros, e nada era bom o suficiente para mim.
 Só que e sempre fui um limão azedo, e nunca vi que aviam limões disponíveis, e sempre procurei o que eu acreditava ser o certo para mim, o que eu acreditava ser bom para mim.
 E nada disso nunca existiu, nunca passou de uma besteira. E eu vejo que o mundo não é feito de limões e laranjas, o mundo é feito de misturas de coisas distintas.
 E nada foi feito pra dar certo ou errado só foi feito pra dar. E eu fui tão azedo, e tão arrogante ao ponto de achar que sou uma laranja partida ao meio quando, claramente sou um limão. Perdi tanto tempo procurando algo, idealizando, que não consigo nem me conformar em encontrar outro pedaço azedo de mim.
 Melhor viver sendo apenas um limão azedo, partido ao meio, porque se fosse realmente bom, perfeito, ou realmente completo não seria partido ao meio. Acredito eu que essa minha outra parte foi partida pra encontrar algo mais doce do que o seu outro lado, algo mais doce do que o seu sabor amargo.
 E acho que eu deveria procurar alguma metade, que me complete ou que ao menos diminua o gosto da amargura, do azedo que é um limão sozinho.

Metade da laranja

4 de jan. de 2015

 E se eu estiver a tanto tempo procurando minha metade da laranja, e se toda essa busca foi em vão. Como eu pude ser tão idiota em acreditar que eu poderia ter uma metade da laranja, eu logo eu, que sempre fui tão duro com as pessoas, que sempre fui tão seco, que sempre tive medo de deixá-las chegar tão perto.
 Obviamente que eu sempre estive procurando errado, como eu um limão poderia procurar uma laranja? Eu já ouvi dizer que os opostos se atraem, mas ai dizer que uma laranja se atrai por um limão isso já é de mais.
 Eu perdi tanto tempo procurando minha metade da laranja, quando ela nem ao menos existia, eu fiquei preso procurando algo que nem existia, fiquem cegos a ponto de menos prezar os outros, e nada era bom o suficiente para mim.
 Só que e sempre fui um limão azedo, e nunca vi que aviam limões disponíveis, e sempre procurei o que eu acreditava ser o certo para mim, o que eu acreditava ser bom para mim.
 E nada disso nunca existiu, nunca passou de uma besteira. E eu vejo que o mundo não é feito de limões e laranjas, o mundo é feito de misturas de coisas distintas.
 E nada foi feito pra dar certo ou errado só foi feito pra dar. E eu fui tão azedo, e tão arrogante ao ponto de achar que sou uma laranja partida ao meio quando, claramente sou um limão. Perdi tanto tempo procurando algo, idealizando, que não consigo nem me conformar em encontrar outro pedaço azedo de mim.
 Melhor viver sendo apenas um limão azedo, partido ao meio, porque se fosse realmente bom, perfeito, ou realmente completo não seria partido ao meio. Acredito eu que essa minha outra parte foi partida pra encontrar algo mais doce do que o seu outro lado, algo mais doce do que o seu sabor amargo.
 E acho que eu deveria procurar alguma metade, que me complete ou que ao menos diminua o gosto da amargura, do azedo que é um limão sozinho.





Olha, eu não queria que você voltasse, que você mentisse ou que você não tivesse me magoado. Eu só queria que você tivesse se importado. Queria que tivesse doído. Que tivesse ardido. Que tivesse ferido. Eu queria que você também fosse tão atingido quanto eu. Eu desejei que você sofresse e que me visse sofrendo para, quem sabe, se preocupar um pouquinho comigo. Eu mendiguei sua atenção em todos os bares da vida e você se fez distante. Eu desejei que toda a minha dor saísse para fora do corpo e se expusesse, fosse à tona. Desejei que minha dor fosse matéria de jornais e que minha mãe te ligasse de madrugada só pra dizer “você acabou com a minha filha”, para quem sabe assim você se importar, você repensar, você notar a merda que estava fazendo.


Mas acontece que minha dor foi só mais uma em meio à várias que vemos por aí. Passou despercebida por todos, menos por mim. Minha dor foi drama. Foi prosa. Foi poesia. Minha dor foi música. Foi samba. Foi carnaval sem alegoria. Minha dor foi frágil. Foi grande. Foi, para os outros, pequenina. Minha dor foi choro. Foi pranto. Foi insônia, metaforicamente, antônimo de alegria. Minha dor foi tudo, porém foi somente minha.


E, cara, eu só queria que minha dor fosse a tua dor também. Entende? Queria te ver sofrendo, não por maldade, mas apenas para ter certeza que, um dia, chegou a ser real o que disse sentir por mim. Eu queria te ver desesperado, implorando para que eu ficasse bem. Mas eu te vi em bares sempre com olhar de desdém. Você foi sujo. Foi egoísta. Imaturo e infantil. E você foi a pior coisa que uma mulher pode desejar num relacionamento: racional. Você foi racional para terminar e para seguir sua vida também. Sem nenhum pingo de emoção, deixou a porta aberta ao sair dizendo que empresas que deixam de dar lucros, tendem a serem fechadas mesmo. Então foi isso? Eu simplesmente deixei de te dar lucros e você decidiu seguir feliz? Sim, foi exatamente isso – descobri dias depois.


Mas olha só, moreno, não leve a mal, acontece que, mesmo sendo o cara mais babaca que já pensei em conhecer, você ainda faz meu coração acelerar de um modo ridiculamente trouxa. E, segundo minha mãe, eu também não colaboro para o desapego. Você se foi e nem fechou a porta. Eu grunhi de dor e nem saí no jornal. Você se explicou por três horas e eu não entendi. Você beijou outra e eu nem me ofendi. Eu implorei e você não cedeu. Você pisou e eu lambi. Eu chorei e você só se pôs a sorrir. Você nos matou e eu me dispus a morrer um pouco mais a cada dia sem você.


E, sabe, aqui em casa ainda tem restos teus personificados em vários objetos que me recuso a matar. Você esqueceu o chinelo e eu o usei. Você esqueceu o moletom e eu o lavei. Você lia jornal e eu ainda o compro todos os dias. Você não ingeria açúcar e eu ainda faço meu café amargo. Eu só lamento por você, pois duvido que qualquer outra faria o que fiz, aguentaria o que aguentei, te trataria como tratei, e amaria como… Como ainda te amo. Porque, infelizmente, não sou boa o bastante para não conjugar o verbo “amar” no presente.


Então é isso. Talvez a minha vida seja somente isso mesmo: viver à espera de que você se dê conta de tudo que perdeu ao me perder. Ou que pelo menos volte para buscar seu moletom, entre, tome um café amargo, acabe deitado no meu peito por um deslize humano e decida ficar para o café da manhã. E vai ficando. Ficando. E fica só mais um pouco, pois, como diria o Chico, quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar.

Carnaval sem alegoria






Olha, eu não queria que você voltasse, que você mentisse ou que você não tivesse me magoado. Eu só queria que você tivesse se importado. Queria que tivesse doído. Que tivesse ardido. Que tivesse ferido. Eu queria que você também fosse tão atingido quanto eu. Eu desejei que você sofresse e que me visse sofrendo para, quem sabe, se preocupar um pouquinho comigo. Eu mendiguei sua atenção em todos os bares da vida e você se fez distante. Eu desejei que toda a minha dor saísse para fora do corpo e se expusesse, fosse à tona. Desejei que minha dor fosse matéria de jornais e que minha mãe te ligasse de madrugada só pra dizer “você acabou com a minha filha”, para quem sabe assim você se importar, você repensar, você notar a merda que estava fazendo.


Mas acontece que minha dor foi só mais uma em meio à várias que vemos por aí. Passou despercebida por todos, menos por mim. Minha dor foi drama. Foi prosa. Foi poesia. Minha dor foi música. Foi samba. Foi carnaval sem alegoria. Minha dor foi frágil. Foi grande. Foi, para os outros, pequenina. Minha dor foi choro. Foi pranto. Foi insônia, metaforicamente, antônimo de alegria. Minha dor foi tudo, porém foi somente minha.


E, cara, eu só queria que minha dor fosse a tua dor também. Entende? Queria te ver sofrendo, não por maldade, mas apenas para ter certeza que, um dia, chegou a ser real o que disse sentir por mim. Eu queria te ver desesperado, implorando para que eu ficasse bem. Mas eu te vi em bares sempre com olhar de desdém. Você foi sujo. Foi egoísta. Imaturo e infantil. E você foi a pior coisa que uma mulher pode desejar num relacionamento: racional. Você foi racional para terminar e para seguir sua vida também. Sem nenhum pingo de emoção, deixou a porta aberta ao sair dizendo que empresas que deixam de dar lucros, tendem a serem fechadas mesmo. Então foi isso? Eu simplesmente deixei de te dar lucros e você decidiu seguir feliz? Sim, foi exatamente isso – descobri dias depois.


Mas olha só, moreno, não leve a mal, acontece que, mesmo sendo o cara mais babaca que já pensei em conhecer, você ainda faz meu coração acelerar de um modo ridiculamente trouxa. E, segundo minha mãe, eu também não colaboro para o desapego. Você se foi e nem fechou a porta. Eu grunhi de dor e nem saí no jornal. Você se explicou por três horas e eu não entendi. Você beijou outra e eu nem me ofendi. Eu implorei e você não cedeu. Você pisou e eu lambi. Eu chorei e você só se pôs a sorrir. Você nos matou e eu me dispus a morrer um pouco mais a cada dia sem você.


E, sabe, aqui em casa ainda tem restos teus personificados em vários objetos que me recuso a matar. Você esqueceu o chinelo e eu o usei. Você esqueceu o moletom e eu o lavei. Você lia jornal e eu ainda o compro todos os dias. Você não ingeria açúcar e eu ainda faço meu café amargo. Eu só lamento por você, pois duvido que qualquer outra faria o que fiz, aguentaria o que aguentei, te trataria como tratei, e amaria como… Como ainda te amo. Porque, infelizmente, não sou boa o bastante para não conjugar o verbo “amar” no presente.


Então é isso. Talvez a minha vida seja somente isso mesmo: viver à espera de que você se dê conta de tudo que perdeu ao me perder. Ou que pelo menos volte para buscar seu moletom, entre, tome um café amargo, acabe deitado no meu peito por um deslize humano e decida ficar para o café da manhã. E vai ficando. Ficando. E fica só mais um pouco, pois, como diria o Chico, quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar.

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