No batuque da multidão,
O frevo explode todo coração
Que um dia foi emigrante
E passou a ser imigrante.

Até a geografia tenta dizer,
Algo que não é conceitual
e com uma lógica totalmente fatal
Pois aqui é onde vais viver.
 

Pode ser de San Francisco,
São Paulo ou João Pessoa,
Porque ninguém chega a toa
E, se preciso, mora com seu Chico.

Só precisa trazer as pernas,
Os abraços e a boca para cantar
Pois a recepção será de maravilhar
Para ser feliz dançando até as noitadas.
 
É um amor que não se mede,
Até no Santa Cruz se pede
O povão fazendo sempre a festa
Com frevo no pé, na torcida e na tela.

E no batuque do maracatu,
Anuncio que as portas estão abertas
Para chegar parente, cachorro, amigo e tu
Nesse canteiro de amor e festas.

 

Nos passos do frevo universal.

8 de fev. de 2015

No batuque da multidão,
O frevo explode todo coração
Que um dia foi emigrante
E passou a ser imigrante.

Até a geografia tenta dizer,
Algo que não é conceitual
e com uma lógica totalmente fatal
Pois aqui é onde vais viver.
 

Pode ser de San Francisco,
São Paulo ou João Pessoa,
Porque ninguém chega a toa
E, se preciso, mora com seu Chico.

Só precisa trazer as pernas,
Os abraços e a boca para cantar
Pois a recepção será de maravilhar
Para ser feliz dançando até as noitadas.
 
É um amor que não se mede,
Até no Santa Cruz se pede
O povão fazendo sempre a festa
Com frevo no pé, na torcida e na tela.

E no batuque do maracatu,
Anuncio que as portas estão abertas
Para chegar parente, cachorro, amigo e tu
Nesse canteiro de amor e festas.

 
Sentada na escadaria daquela velha igreja que costumávamos ficar, eu, entre mascadas de chiclete e sucções de nicotina, me peguei, novamente, pensando em você. O que não seria novidade alguma, caso eu estivesse naquele período de desespero, de submissão como nos primeiros dias após o abandono sem aviso prévio. Acontece que eu jurei, pra Deus e o mundo, que já havia passado e que suas lembranças nem me atormentavam mais. Eu jurei que não doía mais, nem um tiquinho sequer. E doeu. Doeu de um modo anormal, pior que qualquer facada no peito que alguém já ousou levar.
O tempo escurecia enquanto as árvores balançavam. Os hippies da feirinha que se localiza logo em frente à igreja já recolhiam seus artesanatos, prevendo a chuva que chegaria a qualquer momento. Eu permaneci intacta, sem nem me locomover para baixo da marquise. As gotas pesadas daquela chuva gelada começaram a cair sem piedade dos seres humanos desabrigados. Sem piedade de mim que já não tinha mais seu coração para fazer de morada.
Os minutos passavam vagarosamente – ao contrário das pessoas. Tanto as que saíam da igreja, quanto aquelas que corriam para encontrar o abrigo mais próximo. Em meio à pressa das pessoas, eu passei despercebida. O meu choro descontrolado não pareceu ser uma anormalidade naquele dia extremamente úmido. Os soluços em meio aos sons amedrontadores dos trovões eram imperceptíveis. E eu, do fundo do meu coração, não sabia se aquilo era bom o ruim.
Deixei-me invadir pela chuva que já era, na verdade, uma tempestade. A camiseta que eu vestia – que já foi sua, por sinal – estava completamente encharcada. Pesava sobre meu corpo frágil, mas nada que se comparasse ao peso da minha cabeça que implorava por pender. Meu subconsciente implorava pelo seu ombro para que ela repousasse tranquilamente. E você não estava lá. E você não esteve lá. Digo “lá” como quem diz “ao meu lado”, pois você nunca esteve, sinceramente, comigo.
Permaneci trêmula, numa tentativa falha de que a tempestade levasse junto dela a minha dor. Deixei com que a água que caía do céu me limpasse por fora, enquanto eu implorava para que meu interior também ficasse limpo – livre de você. Mas aquela dor absurda parecia não passar. A tempestade aumentava e as ruas já estavam alagadas, e nada de eu me livrar de você. Eu chorei tanto por você que achei que você fosse transbordar pelos meus olhos e, assim sendo, eu estaria livre, limpa. E nada. Eu chorei e você não se foi, não saiu de mim. Eu chorei e você nem voltou, não retornou pra mim. Entende o tamanho da contradição?
Eu implorei por incontáveis minutos que você surgisse em meio àquela chuva para me salvar ou, pelo menos, se preocupar com o possível resfriado que eu estava prestes a pegar. Porém, a verdade é que você não estava mais nem aí. Não estava mais nem ali. E, talvez, nunca mais estivesse.
Eu permaneci naquela chuva até que o tempo se acalmou. Conforme os minutos se passaram, eu também me acalmei. As pernas já não estavam mais trêmulas e as mãos já não apertavam mais o restante do corpo em tom de desespero. O tempo bonito voltou. Os hippies voltaram. As pressa diminuiu. O arco-íris até surgiu. A única coisa inalterada foi o vazio que você deixou em mim.
Então, amor, aguardo ansiosamente pelo meu arco-íris interior.


Sem morada

Sentada na escadaria daquela velha igreja que costumávamos ficar, eu, entre mascadas de chiclete e sucções de nicotina, me peguei, novamente, pensando em você. O que não seria novidade alguma, caso eu estivesse naquele período de desespero, de submissão como nos primeiros dias após o abandono sem aviso prévio. Acontece que eu jurei, pra Deus e o mundo, que já havia passado e que suas lembranças nem me atormentavam mais. Eu jurei que não doía mais, nem um tiquinho sequer. E doeu. Doeu de um modo anormal, pior que qualquer facada no peito que alguém já ousou levar.
O tempo escurecia enquanto as árvores balançavam. Os hippies da feirinha que se localiza logo em frente à igreja já recolhiam seus artesanatos, prevendo a chuva que chegaria a qualquer momento. Eu permaneci intacta, sem nem me locomover para baixo da marquise. As gotas pesadas daquela chuva gelada começaram a cair sem piedade dos seres humanos desabrigados. Sem piedade de mim que já não tinha mais seu coração para fazer de morada.
Os minutos passavam vagarosamente – ao contrário das pessoas. Tanto as que saíam da igreja, quanto aquelas que corriam para encontrar o abrigo mais próximo. Em meio à pressa das pessoas, eu passei despercebida. O meu choro descontrolado não pareceu ser uma anormalidade naquele dia extremamente úmido. Os soluços em meio aos sons amedrontadores dos trovões eram imperceptíveis. E eu, do fundo do meu coração, não sabia se aquilo era bom o ruim.
Deixei-me invadir pela chuva que já era, na verdade, uma tempestade. A camiseta que eu vestia – que já foi sua, por sinal – estava completamente encharcada. Pesava sobre meu corpo frágil, mas nada que se comparasse ao peso da minha cabeça que implorava por pender. Meu subconsciente implorava pelo seu ombro para que ela repousasse tranquilamente. E você não estava lá. E você não esteve lá. Digo “lá” como quem diz “ao meu lado”, pois você nunca esteve, sinceramente, comigo.
Permaneci trêmula, numa tentativa falha de que a tempestade levasse junto dela a minha dor. Deixei com que a água que caía do céu me limpasse por fora, enquanto eu implorava para que meu interior também ficasse limpo – livre de você. Mas aquela dor absurda parecia não passar. A tempestade aumentava e as ruas já estavam alagadas, e nada de eu me livrar de você. Eu chorei tanto por você que achei que você fosse transbordar pelos meus olhos e, assim sendo, eu estaria livre, limpa. E nada. Eu chorei e você não se foi, não saiu de mim. Eu chorei e você nem voltou, não retornou pra mim. Entende o tamanho da contradição?
Eu implorei por incontáveis minutos que você surgisse em meio àquela chuva para me salvar ou, pelo menos, se preocupar com o possível resfriado que eu estava prestes a pegar. Porém, a verdade é que você não estava mais nem aí. Não estava mais nem ali. E, talvez, nunca mais estivesse.
Eu permaneci naquela chuva até que o tempo se acalmou. Conforme os minutos se passaram, eu também me acalmei. As pernas já não estavam mais trêmulas e as mãos já não apertavam mais o restante do corpo em tom de desespero. O tempo bonito voltou. Os hippies voltaram. As pressa diminuiu. O arco-íris até surgiu. A única coisa inalterada foi o vazio que você deixou em mim.
Então, amor, aguardo ansiosamente pelo meu arco-íris interior.


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