Resenha: Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto.

6 de jan. de 2015

  Morte e Vida Severina é um livro contando em poesia do poeta e escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto. Obra de sucesso da terceira fase modernista. Época em que se valorizava o aprofundamento temático do que era proposto.
  O próprio título mostra o quanto esse autor era destinado a sua época.


  As histórias tradicionais costumam linear os fatos através da vida até a morte. João fez o contrário. Ele quebrou esse paradigma querendo propor descrever que a morte vem primeiro até chegar a vida. E por que "Vida Severina"? Semanticamente falando, isso se trata de uma locução adjetiva do qual faz o título se referir a todos os "severinos" que sobrevivem as condições difíceis.

  E quem esses "severinos"? Ele conseguiu generalizar todos os retirantes que vão buscar uma vida melhor em um único personagem. Já relacionando com a principal característica da terceira fase moderna. 
"Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba."

  Por exemplo, devido as dificuldades em que o personagem retirante vive, decide tentar se identificar para o público através de acontecimentos da sua vida, segundo o trecho acima. Por que? É nítido observar que uma pessoa como essa sobrevive em condições precárias das quais não pode nem possuir um simples nome registrado no cartório.

 "Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,"

  Ao desenrolar da cena, consegue ser identificado uma das principais características de João Cabral de Melo neto. A metapoesia. Ao ler profundamente esse trecho, observa-se uma comparação com a próprio trabalho poético. A dificuldade em trabalhar e transmitir a mensagem da palavra.

  Feito isso, a história se resume em contar a viagem de um retirante do Sertão para a Zona da Mata, certo? Errado! Inicialmente, algum leitor pode acabar se perguntando: O tema em si é a seca. Por que ele encontra fertilidade em Recife e a obra continua?! Aí que entra o aprofundamento temático da terceira fase modernista. Ele trata de retratar a dificuldade em que muitos retirantes enfrentam ao sair de sua casa em busca de trabalho. O descaso é tanto que uns chegam a falecer sem condições de viver.

  Ah, detalhe! Por que o subtítulo do livro está titulado como "Um Auto de Natal Pernambucano?" Ao chegar na Zona da Mata pernambucana, Severino espera encontrar fartura e fertilidade. Com as dificuldades ocorrendo no local, uma cena em especial trata de explicar isso. O nascimento do menino com 3 sertanejas ao seu redor em comparação ao nascimento de Jesus Cristo e os reis magos é facilmente identificado. Mas não quer dizer que é religioso. É dito auto de natal pois lembra a cena porém representada pela esperança de uma vivência melhor na região.

 Com tudo isso, fica minha indicação para a procura desse livro de gigante qualidade.

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