Um quase melodrama mexicano

18 de jan. de 2015



Talvez hoje você tenha acordado sentindo falta dele. Ou falta daquela falta que você costumava fazer a ele. Eu sei que dói saber que ele já não se importa mais contigo, que não é mais seu nome que ele cita nas conversas, que não é mais seu beijo que ele anseia, que não é mais por você que ele sorri, e que não é mais seu o coração dele. Mas talvez nunca tenha sido, e também dói pensar assim.


Eu sei que você está confusa porque não sabe se ele chegou a gostar mesmo da sua companhia, da sua risada, da sua voz, de você. E você já não sabe se dói mais pensar que ele simplesmente deixou de te amar, ou se ele nunca chegou a te amar. Porque ser trocada dói. Caralho, como dói! Ser esquecida, abandonada, deixada numa prateleira empoeirada como um livro velho, dói pra valer. Mas você sorri. Você sorri porque é forte. Ou porque é insegura.


Você sorri por medo de que te perguntem o que está acontecendo, caso chore. Medo de que as pessoas não tenham tempo para ouvir seu quase melodrama mexicano que, por agora, parece ser o fim do seu mundo. Porém, não é. Vai perturbar, você vai pensar em vingança, vai querer encher a cara e conhecer novas bocas. Você vai fazer tudo isso e no final vai cair na cama, chorando em cima do travesseiro e daquela velha foto de vocês dois. Porque é ele quem te deixa boba, apaixonada, vidrada, iludida. É ele quem sempre esteve do seu lado, segurando sua mão, ouvindo seus dramas familiares, elogiando sua pinta perto da cutícula, enrolando a ponta do seu cabelo e mordendo sua panturrilha.


Agora ele já não está mais contigo e sua vida parece não ter mais sentido. Você já não sabe como é que vai dormir todas as noites sem aquele “boa noite, linda” rouco. Já não sabe como é que vai assistir filme sem aquela mão macia entrelaçada na sua, sem aqueles dedos alisando seu cabelo, sem aquela boca que só você sabia a tonalidade exata. Você já não sabe como é que vai sorrir sem ser por consequência daquele sorriso lateral que só ele sabia dar. Já não sabe como é que vai conseguir amar outra pessoa depois de tanta decepção. Porque você está com medo e acha que todos os caras vão ser filhos da puta como ele foi. Você acha que todos terão facilidade em te enganar, te trocar, te usar. E, como consequência da dor, você sente uma necessidade absurda de parecer fria e de não confiar em ninguém. Aí as pessoas acabam botando a culpa em você e dizem que ele te largou porque você não dava amor. Mas mal sabem elas que isso era o que você mais dava, até se cansar.


Ele te largou porque cansou de não poder retribuir tanto amor, isso sim. Porque você corria atrás, fazia planos, buscava meios, encontrava soluções, se descabelava, implorava e ele nada. Ele sempre nada. Sem demonstrar nada. Sem dizer nada. Sem, talvez, sentir nada. Ele sempre nada e você sempre tudo. Cheia de intensidade, você fazia de tudo, buscava por tudo, perdoava tudo, esquecia tudo, abria mão de tudo. Uma não-reciprocidade que dói a qualquer terceiro que ouça sua história. Uma não-reciprocidade que doeu em cada órgão do seu corpo e te fez mais forte. Ou mais forçada - como preferir.



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